sábado, 26 de junho de 2010

até hoje ..


Como os animais ferozes por um certo lado, que invadem tua vida e destroem de alguma forma você. Esses animais são humanos e dessa espécie peguei um trauma. Então você apareceu. Eu me disfarcei como em todas as vezes faço, na intenção de transparecer que não era uma presa, até quando você fosse embora. Você permaneceu e me encarou, seus olhos não refletiam sede, raiva, aquele mal que o próprio animal tem e despercebe. Eu pensei: "uma armadilha?" Dei um passo atrás e perguntei como você havia chegado e parado ali. Tu disseste que aquele era seu mundo e que aquela pergunta era sua. Pensei sozinha: "meu disfarce é tão fajuto assim ao ponto de distinguir-me?" Eu disse que aquele era meu mundo também e que aquela pergunta era nossa. Lembrei dos teus olhos tempos depois com a cabeça baixa enquanto fazia perguntas das quais, as respostas jorravam pela boca sem nenhum disfarce. O tempo passou e vi que uma de suas 'garras' estava tentando segurar minha mão então eu a apertei de maneira leve, não me arranhavam e não havia peso algum, pelo contrário tocar em você me fazia leve. Permanecemos ali, enquanto o mundo havia parado, seu corpo refletia uma parte do meu que estava perdida num passado que já não mais conhecia, eu precisava ficar perto de você, só que me afastei e disse que precisava ficar sozinha. Você 'compreendeu' e me deixou só, mas disse que voltaria. Eu disse que quando voltaste que olhasse nos meus olhos. O disfarce impedia de sentir teu calor, só que era um frio quente quando você se aproximava. Você voltou e meu disfarce veio ao chão, visto por fora era uma atitude tão corajosa, mas diante dos meus olhos e dos teus era uma falha. Já não me importava a tua espécie e nem pra ti a minha. Me aproximei e suas garras ficaram presas no chão evitando descontar sua raiva naquele corpo, o meu. Uma dor enlaçou aquele coração que já não era mais coração, o que era mais provável aos outros animais que suas garras haviam meu peito dilacerado, mas não... era uma dor por ter te enganado e outra por ver você de costas ao ponto de ir embora. Quanto mais distante te avistava, maior era aquela dor, tão quantos gritos em meio do nada por estar morrendo. Então adormeci e quando acordei senti um peso leve em uma das mãos, não eram mais garras, eram suas mãos acompanhadas de uma voz que dizia que nunca me abandonaria e um olhar de preocupação. Em meu rosto um sorriso discreto veio a tona e você me abraçou. Aquele frio que sentia já não era mais frio enquanto você me abraçava, aquele pedaço meu perdido eu havia encontrado quando você me beijou. Você que morava nos meus sonhos e passou a viver na minha realidade. A partir daí então, o ponteiro do relógio passou a girar tão depressa, como um furação no meio de uma grande tempestade sem fim, que a cada despertar, eu via aquele mundo surreal se desmanchando. Mais uma vez eu despertei, meus braços se encontravam vazios, sua ausência ferindo meu peito e seu abandono transbordando um rio em meus olhos. Você se foi. Agora, estou a quebrar essas minhas asas, trocar esse traje branco pelo preto. A única luz no fim do túnel de alguém se apagou.

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